sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Edição e fanzines, breves apontamentos

Aqui fica parte do texto que escrevi a propósito da exposição na sede do a9)))) com trabalhos dos artistas que participaram no fanzine Preto no Branco. Um texto que tem sido adaptado ao longo do tempo e que agora tem a forma destas poucas palavras que são a minha opinião pessoal.


Edição e Fanzines, breves apontamentos


            Este texto é um pequeno apontamento sobre o papel que, me parece, pode ser reclamado pelos fanzines e pela auto-edição em geral. 
            Costumo pensar nestas publicações como uma disputa com o tempo, com o esquecimento, mesmo que o próprio fanzine contenha em si essa perenidade e temporalidade finita, mesmo que nas suas páginas estejam muitas vezes impressos manifestos e ideias com vida curta. Ainda que muito pouca gente  leia fanzines, eles existem para o mundo,  são a projecção dos nossos interesses, sonhos, ansiedades, preocupações e sentimentos. Os fanzines, punhado de folhas agrafadas, por existirem assim no limite de um fim próximo, poderão ser, então, uma tentativa de imortalização do espírito. Em estado perene, essa ideia de publicar mais ou menos precária e instável, existe sem razão, sem explicação, sai de dentro para fora. É a existência insensata e frágil que me aproxima e me cativa na edição deste tipo de publicações e nessa fugacidade e instabilidade formal e das ideias existe também o reverso da medalha. Uma navalha com duas lâminas.
Por um lado, move-me essa tentativa prazerosa de criar num formato precário, por outro  angustia-me que não exista público/mercado que consiga muitas vezes absorver os inúmeros fanzines que se vão publicando - o público que consome, é muitas vezes o mesmo que produz - influenciando muitas vezes a criatividade e produtividade das publicações.
Esta é uma questão para a qual se deve procurar solução. Os fanzines existem para satisfazer os fan-editores (os autores/editores de fanzines) que, ou não conseguem publicar o seu trabalho em outras publicações mais mediatizadas e reconhecidas, ou que encontram nos fanzines e na auto-edição um espaço de experimentação e confronto que provavelmente não lhes seria permitido em publicações estabelecidas, por serem edições de elevado estatuto comercial e/ou artistico que acabam por exercer no autor essa pressão e deixar pouco espaço para tentativas de experimentação criativa (embora existam excepções).  A edição de fanzines satisfaz um nicho de mercado pequeníssimo que se revela na maior parte dos casos nos próprios fan-editores ou, caso a temática seja mais especifica, num pequeno conjunto de interessados (caso contrário, essa publicação seria editada e distribuida em maior escala).
Há ainda uma outra questão que contribui para que os fanzines continuem afastados de um público mais abragente, e que me parece importante mencionar, que é o caracter de urgência  presente em muitas destas publicações, e volto à já mencionada característica precária que não é somente a precariedade financeira dos autores, mas neste caso da própria publicação enquanto objecto portador de imagem e escrita. Essa dimensão de urgência leva muitas vezes ao descuido na edição e no próprio discurso teórico que envolve a publicação, e apesar de poder acentuar o distanciamento entre o autor e o público, este inadiamento, esta urgência de tornar público é como um grito que se faz ouvir (ainda que na maior parte das vezes não ecoe e se torne quase mudo, um grito emudecido não pela força da experiência  mas pela inoperatividade contida no próprio objecto publicado).
O problema financeiro há de ser sempre um entrave ao desenvolvimento de um mercado e da educação do público. As editoras de banda desenhada (embora a mesma situação se aplique a outras editoras ligadas à literatura, à fotografia, ao cinema, às artes visuais, etc) acabam por preferir publicar as infindáveis histórias de super-heróis americanos e seus compinchas, em deterimento de autores portugueses, ou da tradução de outros estrangeiros que alimentem a criação alternativa, em suma, de uma banda desenhada que convoque a discussão de temas diferenciados e consciencializadores, política, estética, filosófica, e culturalmente, deixando de parte as explosões e fantasias imperialistas de poderosos/mutantes/humanos. O risco é grande, a vontade é dúbia (parece-me) e o dinheiro escasseia. Daí que os fanzines e a auto-edição prevaleçam muitas vezes como espaço de agitação e experimentação. Esse papel agitador em potencial desempenhado pela internet, parece-me, por ter implodido rapidamente, se transforma num abismo de informação poluída e que nos delega para um marasmo e confusão, para além de que a fisicalidade do papel e o cheiro da tinta desaparece, e é também aqui, na fisicalidade e relação corporal que o fanzine mantém com o leitor, uma interacção genuína e real, que pode ser fomentanda uma verdadeira dinâmica em redor das emoções, da empatia, da fraternidade e da tomada de consciência de si próprio como ser individual e físico inserido na esfera do real.
Penso que só pela união e associação entre editores de uma maneira séria e consciente, na tentativa de uma aproximação elucidativa às pessoas, as publicações com este carácter especial de quase preciosidade poderão sentir alguma luz –somente a necessária- sobre as suas capas e folhas. Mas sempre, sempre sem concessões criativas. E este é um trabalho inglório e difícil.
Em relação ao objecto com intenção em potência compreendo que uma publicação dificilmente poderá ter peso algum que faça operar alguma mudança na nossa realidade. Ainda que o seu poder seja ténue, acredito que no acto de publicar reside algum espaço reinvidicativo, de resistência, ainda que em potência e com fraca capacidade de competir com outras plataformas de partilha, informação e comunicação. Mas essa ansiedade e força estão lá. Esse característica reinvidicativa está decalcada no próprio acto de tornar público, de publicar, nos gestos, no tempo, o tempo de empenho em fazer nascer do papel e da tinta, dos agrafos e da linha, da cola e do tecido, um objecto vivo, que transporta nele um pouco da força anímica que nos faz sonhar e ainda, apesar de todas as dificuldades, sentir que é possível resistir. É possível furar a violência do real e encontrar um espaço individual ou colectivo de partilha. Nas páginas dos fanzines, dos livros de artista, dos panfletos -quero acreditar- reside ainda um lugar virgem e honesto onde nos podemos tornar nós próprios, tomar partidos, fomentar opiniões, fazer existir as imagens e as palavras que nos persseguem e que necessitamos tornar públicos num espaço não virtual, com texturas e cores que palpamos e cheiramos. Nestas folhas ainda podemos existir individualmente, colectivamente,  anónimamente e intimamente. Alguém num outro lugar irá receber-nos. 


Façam fanzines e Cuspam martelos

            O nome que dei à editora Façam fanzines e Cuspam martelos apareceu pela primeira vez no fanzine “Bolso #4” em 2006, já lá vão 6 anos, pensei que seria um nome que transmitiria uma sensação de esforço (escatológico?) e que dava o mote para a actividade fanzinista como sendo algo que tem que ser expelida, mas que custa sair. Cuspir martelos pareceu-me então algo que traria alguma dor a quem os cuspisse. Como a quem faz fanzines.
            A actividade da editora tem sido feita de maneira descontraída ao ritmo das vontades de quem se envolve ao longo do tempo neste projecto.
            Sozinho ou em colectivo, nomeando a editora ou esquecendo-me que ela existia, comecei a editar estes fanzines nas Caldas da Rainha, em 2005, cidade nidificadora e em tempos animada pelo carinho e interesse pelos fanzines e pela acção de os fazer existir, onde também eu adquiri e cultivei esse carinho e interesse (as últimas vezes em que regressei às Caldas pareceu-me que a cena fanzinista caldense renascia outra vez, alimentada por novos alunos da ESAD ligados à BD, à ilustração e ao design gráfico).
            A editora apesar de não existir burocrática e oficialmente, tem como objetivo fomentar a partilha e interesse pela publicação de fanzines e outros tipos de edições, não vou entrar em discussões sobre o limite das publicações como fanzines ou outra coisa, na minha opinião, um fanzine é um fanzine quando o autor assim o nomear, apesar de concordar que pode existir uma tipologia que se aplique ao objecto e lhe dê o nome de fanzine, jornal, revista ou livro.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Preto no Branco, do papel impresso para a a parede

Este sábado dia 10 de Novembro na Sede do a9)))) em Leiria inaugura a exposição pensada a partir do fanzine, Preto no Branco. Apareçam para tarde de conversa, saudável convívio e um copo de vinho.
Posteriormente, na continuação da exposição, dia 1 de Dezembro a Façam fanzines e Cuspam martelos em colaboração com o a9)))) organizam um encontro e Feira de Fanzines e auto-edição!